Umberto Eco, ed. Record, 2006
Campanile é um grande autor cômico porque é autor funéreo, e funerário, pois fala muito de cemitérios e funerais.
Suas páginas voltam obsessivamente ao problema da morte, desde as obras da juventude. Campanile extrai da idéia da morte ocasiões para pequenos sorrisos. A começar por aquele seu personagem juvenil que, à pergunta “Como se vai?”, em vez de “Vai-se vivendo”, responde: Vai-se morrendo”, e depois explica lucidamente o porquê. Leiamos esta trecho de Cantilena all’angolo della strada:
Embora se saiba com certeza que todos temos que morrer... todos, mesmo assim, ficam surpresos com o fenômeno. Quem vai ao funeral de um amigo ou de um parente tem, no fundo, a idéia de que está tratando de uma coisa que não lhe diz respeito pessoalmente. Já foram visitar uma família atingida pelo luto enquanto o finado ainda se encontra em casa? Vêem-se pessoas estupefatas, como se tivesse acontecido algum fato estranhíssimo que, desde que o mundo é mundo, nunca antes se produzira. Todos se agitam, todos demonstram seu despreparo para a coisa. Sejam os parentes, sejam os amigos. Os primeiros não mostram qualquer desenvoltura. Os visitantes pronunciam frases que, mesmo vistas com benevolência, é inevitável que sejam definidas como insensatas. [...] Não podem absolutamente ver uma lágrima. “Não chore.” “Prometa que não vai chorar.”, ordenam. Mas por quê? Há algum mal em que alguém chore? Quanto aos parentes, repetem frases desprovidas de sentido comum: “Não devia morrer”; “Quem poderia imaginar?”, e outras, admissíveis somente se o fenômeno da morte estivesse se apresentando pela primeira vez no mundo.[...] Surpresa? Mas estão malucos?
Leia o texto completo AQUI no blog do Cabaré
Campanile é um grande autor cômico porque é autor funéreo, e funerário, pois fala muito de cemitérios e funerais.
Suas páginas voltam obsessivamente ao problema da morte, desde as obras da juventude. Campanile extrai da idéia da morte ocasiões para pequenos sorrisos. A começar por aquele seu personagem juvenil que, à pergunta “Como se vai?”, em vez de “Vai-se vivendo”, responde: Vai-se morrendo”, e depois explica lucidamente o porquê. Leiamos esta trecho de Cantilena all’angolo della strada:
Embora se saiba com certeza que todos temos que morrer... todos, mesmo assim, ficam surpresos com o fenômeno. Quem vai ao funeral de um amigo ou de um parente tem, no fundo, a idéia de que está tratando de uma coisa que não lhe diz respeito pessoalmente. Já foram visitar uma família atingida pelo luto enquanto o finado ainda se encontra em casa? Vêem-se pessoas estupefatas, como se tivesse acontecido algum fato estranhíssimo que, desde que o mundo é mundo, nunca antes se produzira. Todos se agitam, todos demonstram seu despreparo para a coisa. Sejam os parentes, sejam os amigos. Os primeiros não mostram qualquer desenvoltura. Os visitantes pronunciam frases que, mesmo vistas com benevolência, é inevitável que sejam definidas como insensatas. [...] Não podem absolutamente ver uma lágrima. “Não chore.” “Prometa que não vai chorar.”, ordenam. Mas por quê? Há algum mal em que alguém chore? Quanto aos parentes, repetem frases desprovidas de sentido comum: “Não devia morrer”; “Quem poderia imaginar?”, e outras, admissíveis somente se o fenômeno da morte estivesse se apresentando pela primeira vez no mundo.[...] Surpresa? Mas estão malucos?
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