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25 de abr. de 2008

As mil e uma mortes de Isabella

Há quase um mês a maioria dos veículos de comunicação do país dissemina uma overdose de cobertura sobre caso Isabella. A crueldade de que foi vítima a criança se tornou um espetáculo transmitido em tempo real. Uma novela policial “ao vivo” com vários capítulos num só dia. O pai e a madrasta são os vilões e protagonistas do seriado. No júri de milhões cujo juiz é a mídia o par já foi condenado. E há um cheiro de ódio por toda parte e uma vontade de linchamento no ar. No ponto de ônibus, na fila do centro de saúde, na escola, no trabalho, nos bares, onde haja mais do que um o assunto vem à baila. Muitos e muitos se tornaram figurantes da novela. Com gosto ou a contragosto uma vez que é impossível fugir ao tema. Uns mais extremados se aglomeram nas cercanias da delegacia ou do prédio onde se refugiaram os vilões para, sem direito a cachê, terem uma “pontinha” no seriado. A fórmula é antiga. A mídia explora desgraças e mazelas em busca de audiência e dinheiro fáceis. Aliena, fatura e afasta a opinião pública das grandes questões. No caso concreto, houve uma corrida ao ouro. O tempo e o espaço destinado ao assunto foram aumentando a audiência, que por sua vez passou a fomentar uma cobertura cada vez maior. O caso Isabella por obra dessa dinâmica passou a ser “uma necessidade” para milhões. Por isso, tantas vezes ela foi atirada pela janela do apartamento. Por isso, tantas vezes a mídia repetiu e repete o crime. Essa exploração via espetáculo midiático do assassinato dessa criança, única e exclusivamente por audiência e pelo dinheiro dela decorrente, expõe, por um outro ângulo, a importância do debate e da luta pela democratização da mídia em nosso país.

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