O bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, que fez greve de fome para protestar contra as obras de transposição do Rio São Francisco, entregou ao governo federal na quinta-feira (22) um projeto alternativo para viabilizar a convivência da população do semi-árido nordestino com a seca. Segundo ele, o próprio presidente Lula havia lhe pedido, em audiência no Palácio do Planalto em dezembro de 2005, uma alternativa.
“Agora, a gente está apresentando uma proposta com menor custo ambiental e mais favorável à população pobre do semi-árido”, avaliou em entrevista na sede da Cúria Metropolitana de Brasília.
7 comentários:
Luís Gusmão,
D. Cappio nunca foi tucano. Assessoro várias pastorais sociais e fui consultor nacional da CPT. A CPT da Bahia e a ASA (Articulação do Semi-Árido, que envolve quase a totalidade dos movimentos sociais da região) apóiam D. Cappio. Fui um dos elaboradores da Agenda 21 do Brasil. Não há um especialista de conceito no Brasil que é favorável à transposição do São Francisco. Acho que o título é uma maldade sem igual a uma figura pública das mais respeitadas na Bahia e na Igreja Católica.
Rudá
eu realmente gostaria de saber as razões pelas quais esses especialistas são tão radicalmente contra a transposição. não tenho posição definida ainda, mas até agora tive acesso às razões do governo, obviamente favoráveis ao projeto, e elas me pareceram extremamente razoáveis, justas e lúcidas.
há uma lista dessas razões no meu blog - votolula.blogspot.com -, compiladas pelo ricardo, que escreve lá comigo. eu acho que seria bastante útil e interessante ver o embate de opiniões...
São razões técnicas, Clarice. Não há necessidade de se alterar o fluxo do São Francisco. Você deve saber que a água atenderá aos ricos empresários e não às famílias pobres. Os dutos para criar a capilaridade de acesso à água não está prevista no projeto de transposição. O problema poderia ser resolvido por investimentos em cisternas. Cada cisterna atende a uma família durante todo o ano e custa 700 reais.
Vou reproduzir uma das opiniões técnicas, divulgada pela Fundação Joaquim Nabuco:
O Rio São Francisco não irá suportar mais esta retirada de água, no volume pretendido - 50 a 60 metros cúbicos por segundo -, sem que haja conseqüências negativas na geração de energia elétrica no complexo de Paulo Afonso. O Rio São Francisco, que teve prioridade inicial de geração e irrigação, corre inteiramente no Semi-árido sobre uma geologia cristalina, na qual seus afluentes têm caráter temporário. Este aspecto, por resultar numa constante diminuição de sua vazão ao longo do tempo, obrigou a CHESF a construir a represa de Sobradinho para manter a sua vazão em patamares seguros ao processo de geração. Ocorre que a represa de Sobradinho tem operado em regimes críticos - em janeiro de 98 ela apresentava um volume útil de geração de apenas 13% - nos levando a acreditar que praticamente o rio voltava a correr no seu leito como antes de ser represado. Não vamos ter água suficiente para gerar energia elétrica, irrigar e abastecer as cidades.
Esta é apenas uma das opiniões técnicas. Uma em tantas que, se desejar, poderei explicitar neste espaço.
Uma abraço,
Rudá Ricci
o que eu sei é que o projeto é para atender as famílias pobres, sim, esse argumento não me convence.
quanto às questões técnicas, pelo que pude ler no blog, o volume a ser desviado é de 1% da sua vazão, volume muito pequeno para prejudicar seu fluxo natural, mas suficiente para levar água a 12 milhões de pessoas. o custo da cisterna por família é realmente baixo, mas se considerarmos a totalidade de famílias, serám que uma solução mais definitiva não parece mais adequada?
O uso de cisternas é válido numa conjuntura emergencial, mas muito precário se for a única fonte de água permanente. Para abastecer uma cisterna, é preciso uma área adequada de telhado, onde se faz a captação da água. Em muitos lugares, nem sempre existem áreas telhadas suficientes para manter as cisternas cheias, porque chove pouco. E nas secas prolongadas, a cisterna é um recurso que pode esgotar-se. Em resumo, apenas construir cisternas não resolve a questão principal, embora alivie a vida dos pobres dispersos no meio rural do sertão. Pesquisas feitas no semi-árido mostram também um outro problema grave: a contaminação das cisternas por coliformes fecais e outras fontes de poluição.
Prezados Clarice e Ricardo,
Acho que vocês estão com informações equivocadas. Durante a elaboração da Agenda 21, foram reunidos mais de 400 especialistas da área, de todos as origens partidárias. Todas informações que vocês apresentam não conferem. Todos movimentos sociais e técnicos mais destacados da área são absolutamente ocntrários à transposição. Vou ser bem sincero: houve um acordo, envolvendo alianças no Ceará (Ciro Gomes, em especial) pela transposição. Não atenderá uma comunidade rural pobre. Tenho o mapa. Sou consultor do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Não sei se você sabe, mas não existe unanimidade nem no interior do governo federal. Os interesses não são técnicos ou populares, mas políticos. Daí tantas forças políticas serem contrárias à transposição.
A quantidade de água desviada é muito maior que 1% da vazão total no baixo São Francisco (muito superior a 4%, podendo chegar a 6%, o que tecnicamente é muito para a saúde do rio). Boa parte desse volume serviria a projetos de agricultura irrigada (principalmente para a produção de frutas para a exportação) e a produção de camarão em açudes. Ora, sejamos sinceros: não atenderia população pobre, mas grandes projetos de exportação e com foco nos nichos de alto consumo. Mas, vamos continuar no foco da demanda popular.
Em 2005, 58 entidades reunidas em Propriá (Sergipe), no Encontro das Organizações Populares, Movimentos Sociais e ongs do baixo São Francisco, elaboraram uma Carta em Defesa do São Francisco, afirmando que os índicos Xocós, Kariris, Xururu, Daropotó, Tiquipopó, Kompanká, Vassu-cocal e comunidades quilombolas resistiria à transposição. O documento afirma que o problema do semi-árido nordestiono não é a falta de água, mas o desenho de sua distribuição. O texto, na íntegra, diz:
A transposição não resolve isso. Com ela, a água será levada, basicamente, para reservatórios que atendem as áreas urbanas ou às grandes produções irrigadas, e não até as cidades mais remotas, no sertão. A operação do sistema de transposição terá um custo anual de cercad de 50 a 100 milhões de reais por ano, divididos em quatro estados beneficiários. Esse volume enorme de recursos vai comprometer grande parte dos investimentos dos próximos governos. No Rio Jaguaribe, no Ceará, existe um grande número de produtores vazanterios, que abastecem as feiras das regiões mais humildes, aproveitando-se da irrigação natural propiciada pelas cheias anuais do rio.
Não vou continuar com a exposição. Quero apenas dizer que se há discurso tucano, é o da defesa da transposição. Fui dirigente nacional do PT e nunca defendemos esta tese. É uma tese lulista e não petista. Mesmo porque, sempre defendemos os interesses populares como metodologia de escuta e construção de ações públicas. Na campanha de 94 (fui coordenador da campanha de Lula em 89 para a questão agrária) Lula já havia recebido documentos do nordeste e organizações do Jequitinhonha pedindo ações que eram absolutamente contra a transposição. Todos movimentos sociais são contra esta loucura.
Infelizmente, os princípios são tragados pelos interesses da coalização.
Se desejarem, continuarei expondo vários argumentos técnicos (não sei se não são áridos demais) e políticos (de movimentos sociais, aos quais tenho acesso, já que sou da executivo nacional do Fórum Brasil do Orçamento www.forumfbo.org.br ).
Rudá Ricci
Prezados Clarice e Ricardo,
Acho que vocês estão com informações equivocadas. Durante a elaboração da Agenda 21, foram reunidos mais de 400 especialistas da área, de todos as origens partidárias. Todas informações que vocês apresentam não conferem. Todos movimentos sociais e técnicos mais destacados da área são absolutamente ocntrários à transposição. Vou ser bem sincero: houve um acordo, envolvendo alianças no Ceará (Ciro Gomes, em especial) pela transposição. Não atenderá uma comunidade rural pobre. Tenho o mapa. Sou consultor do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Não sei se você sabe, mas não existe unanimidade nem no interior do governo federal. Os interesses não são técnicos ou populares, mas políticos. Daí tantas forças políticas serem contrárias à transposição.
A quantidade de água desviada é muito maior que 1% da vazão total no baixo São Francisco (muito superior a 4%, podendo chegar a 6%, o que tecnicamente é muito para a saúde do rio). Boa parte desse volume serviria a projetos de agricultura irrigada (principalmente para a produção de frutas para a exportação) e a produção de camarão em açudes. Ora, sejamos sinceros: não atenderia população pobre, mas grandes projetos de exportação e com foco nos nichos de alto consumo. Mas, vamos continuar no foco da demanda popular.
Em 2005, 58 entidades reunidas em Propriá (Sergipe), no Encontro das Organizações Populares, Movimentos Sociais e ongs do baixo São Francisco, elaboraram uma Carta em Defesa do São Francisco, afirmando que os índicos Xocós, Kariris, Xururu, Daropotó, Tiquipopó, Kompanká, Vassu-cocal e comunidades quilombolas resistiria à transposição. O documento afirma que o problema do semi-árido nordestiono não é a falta de água, mas o desenho de sua distribuição. O texto, na íntegra, diz:
A transposição não resolve isso. Com ela, a água será levada, basicamente, para reservatórios que atendem as áreas urbanas ou às grandes produções irrigadas, e não até as cidades mais remotas, no sertão. A operação do sistema de transposição terá um custo anual de cercad de 50 a 100 milhões de reais por ano, divididos em quatro estados beneficiários. Esse volume enorme de recursos vai comprometer grande parte dos investimentos dos próximos governos. No Rio Jaguaribe, no Ceará, existe um grande número de produtores vazanterios, que abastecem as feiras das regiões mais humildes, aproveitando-se da irrigação natural propiciada pelas cheias anuais do rio.
Não vou continuar com a exposição. Quero apenas dizer que se há discurso tucano, é o da defesa da transposição. Fui dirigente nacional do PT e nunca defendemos esta tese. É uma tese lulista e não petista. Mesmo porque, sempre defendemos os interesses populares como metodologia de escuta e construção de ações públicas. Na campanha de 94 (fui coordenador da campanha de Lula em 89 para a questão agrária) Lula já havia recebido documentos do nordeste e organizações do Jequitinhonha pedindo ações que eram absolutamente contra a transposição. Todos movimentos sociais são contra esta loucura.
Infelizmente, os princípios são tragados pelos interesses da coalização.
Se desejarem, continuarei expondo vários argumentos técnicos (não sei se não são áridos demais) e políticos (de movimentos sociais, aos quais tenho acesso, já que sou da executivo nacional do Fórum Brasil do Orçamento www.forumfbo.org.br ).
Rudá Ricci
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