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“Saiba, companheiro Evo, que toda vez que me encontro contigo, eu não esqueço que somos chefes de Estado de países soberanos, que precisamos agir como chefes de Estado, cada um em defesa do seu país. Mas antes de ser presidente da República, você na Bolívia e eu aqui no Brasil, nós éramos companheiros do movimento sindical e não podemos permitir que essa nossa primeira relação seja diminuída porque hoje somos presidentes”. A declaração, feita aos presidente da Bolívia, Evo Morales, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a solenidade de assinatura do acordo para compra do gás boliviano pela Petrobras, revela o poder real que os sindicatos exercem hoje na América Latina, e particularmente no Brasil.
A exemplo de Lula, que começou sua carreira política como dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, no ABC paulista, há sindicalistas à frente de ministérios, em cargos importantes nas principais estatais, fundos de pensão de empresas e bancos públicos, dirigindo o Sebrae e o Sesi. Mas é no Legislativo que o poder dos sindicatos mostra-se mais forte. Nas últimas eleições, 60 parlamentares (55 deputados e cinco senadores) chegaram ao Congresso e ocupam postos-chave nas comissões permanentes. O presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), foi dirigente estadual da CUT paulista (veja quadro).
Chinaglia é uma prova de que sindicatos, federações, confederações e centrais sindicais são uma espécie de trampolim para a carreira política dos seus dirigentes. Os 55 deputados de origem sindical espalhados por sete partidos formam a quinta bancada na Câmara, atrás apenas de siglas tradicionais — o PMDB (91 deputados), o PT (82 parlamentares), o PSDB (63 tucanos) e o PFL (62 congressistas). O grupo de sindicalistas é maior que as bancadas dos dois partidos de origem trabalhistas juntos: o PDT — cujo ícone é o ex-governador Leonel Brizola, afilhado do ex-presidente Getúlio Vargas, fundador do PTB.
Composição
Do total da bancada de “peões”, 39 foram reeleitos e 16 são novatos. Um levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) revela que a composição do grupo sindical é majoritariamente petista. Dos 60 congressistas, 45 são filiados ao PT. Os outros partidos com esse tipo de representação na bancada sindicalista são o PCdoB (7), PDT (3), PPS (1), PMDB (1), PV (1) e PSol (2). Na eleição de 1998, foram eleitos 44 sindicalistas ou candidatos ligados ao movimento sindical.
A bancada de sindicalistas sofreu uma pequena redução no Congresso em comparação com as eleições de 2002, quando 74 deles foram eleitos na onda Lula. Mas ganhou força ao ocupar, nesta legislatura, postos-chave em todo o Congresso, além de fortalecer o grupo no Senado. A queda foi o reflexo da aprovação da reforma na Previdência que provocou desgastes entre os trabalhadores da chamada “base”. Para compensar a redução de parlamentares, o poder sindical se espalhou pelo Executivo, em autarquias, fundações e no segundo e terceiro escalões dos ministérios.
O ex-presidente da CUT Jair Meneguelli desistiu de continuar no Congresso e garantiu a presidência do Serviço Social da Indústria (Sesi), tradicionalmente ocupada por empresários. Outro exemplo do poder dos sindicalistas no Brasil é o do ex-deputado Luiz Antônio Medeiros (PR-SP). Fundador da Força Sindical, não conseguiu se reeleger em outubro, mas está cotado para a Secretaria de Relações do Trabalho, uma das mais importantes no ministério dirigido por pelo sindicalista Luiz Marinho, ex-presidente da CUT.
Partidão
Medeiros é um exemplo da antiga “correia de transmissão”, expressão que definia os sindicalistas obedientes às orientações do antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB). Filiado ao Partidão, ele chegou a fazer curso na antiga União Soviética e depois presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Ele foi um dos ideólogos do chamado “sindicalismo de resultados”, em oposição a uma atuação mais ideológica da CUT com hegemonia petista.O exemplo mais recente do poder dos sindicatos é o do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP). Presidente e fundador da Força Sindical, ele usou até a marca da central como sobrenome eleitoral e, mesmo com todas as atribuições da Câmara, permanece à frente da entidade. Paulinho, como é conhecido, exigiu ser o líder do bloco parlamentar formado pelo PDT, PSDB e PCdoB, como compensação por ter desistido de ser o líder da bancada do seu partido, o PDT, ocupada pelo deputado Miro Teixeira (RJ). “Não fui líder da bancada porque não quis”, comentou Paulinho.
A Força Sindical tem maior estrutura, mais filiados, orçamento mais gordo e um número muito maior de escritórios espalhados pelo país que o seu partido, o PDT, não tem. Paulinho da Força, antigo assessor de Medeiros, já foi PCdoB, PT e agora é um dos pilares de sustentação do PDT. É o vigor sindical.
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