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Licitação de obra do Centro Administrativo mineiro de R$ 1,5 bi confronta o governador Aécio com sua irmã Andréa
Embora mantido a sete chaves, a discordância em função da luta pela predominância de interesses de grupos financeiros nas decisões do governo já atinge a primeira linha de comando do governo mineiro e o inevitável está ocorrendo. A divisão de poder sempre foi muito complicada e delicada em qualquer governo e, principalmente, quando entram em questões financeiras.
Embora este fato seja pouco percebido pela maioria das pessoas ele é comum. Porém, em Minas Gerais, a questão extrapolou o razoável e já ganha aspecto de crise institucional, uma vez que os dois grupos centrais de poder resolveram se enfrentar na escolha das regras para licitação da considerada maior obra do segundo mandato do governador Aécio Cunha: o Centro Administrativo a ser construído em Venda Nova. Tal obra está orçada inicialmente em R$ 1,5 bi, mas para especialistas não ficará por menos de R$ 3 bi, o equivalente a construção de três rodovias em pista dupla como a Fernão Dias, com 2 mil quilômetros. O valor também é o dobro do atual déficit publico mineiro, calculado em R$ 2,2 bi. De fato, é uma montanha de dinheiro.
De um lado está o Diretor-geral do Departamento de Obras Públicas de Minas Gerais (DEOP-MG), Reinaldo Alves Costa Neto, que, segundo alguns, além de dividir segredos, sempre representou os interesses do governador Aécio Cunha junto aos empreiteiros. Do outro lado, representando Andréa Neves da Cunha, irmã do governador, está ninguém menos que Oswaldo Borges da Costa, presidente da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), conhecido empresário mineiro, casada com a filha do banqueiro Gilberto Faria, atual marido da mãe de Aécio e Andréia. A ele é atribuída a “intermediação” dos grandes negócios de interesse do governo.
É evidente que em qualquer governo quem estivesse do lado do governador sairia ganhando. Porém, a realidade do governo de Minas é outra: a irmã de Aécio tem hoje sobre seu controle toda a máquina administrativa, fiscal e financeira do Estado em todos os escalões, além da área de imprensa, comunicação e grande parte da máquina política, pois, oficialmente, ela estaria nas mãos do secretário de governo Danilo de Castro. Nas mãos de Aécio está apenas a parte cerimonial do governo que, a muito custo, ele cumpre, ou seja, para ele diariamente “continência”.
Em Minas atualmente ocorre como na Inglaterra: o rei reina, mas não governa.
Até agora, o pouco apetite pelo trabalho do governador era favorável, pois independente de sua participação ou presença, os “representantes” dos dois grupos se entendiam. Porém, agora o governador vai ter que mediar a disputa, pois a briga já chegou quase à cotoveladas; a importância disputada é considerada grande.
Vejam a que ponto Minas chegou: seus governantes patrocinam a divergência entre dois “representantes”. A divergência está centrada exclusivamente na escolha do modelo que será adotado na licitação da obra do Centro Administrativo.
Políticos e administradores mais experientes indagam assustados: como poderia a alta direção do Estado estar envolvida nisto?
O Diretor-geral do DEOP-MG, Reinaldo Alves Costa Neto, umbilicalmente ligado as pequenas e médias empreiteiras mineiras desde o período de sua presença na Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), defende que a obra seja dividida e licitada em nove lotes. Desta forma, atendendo um número maior de empreiteiras, o segundo “representante” Oswaldo Borges da Costa, ligados as grandes empreiteiras, pretende que a obra seja licitada através de um só lote, eliminando assim 99% dos participantes do certame devido às maiores exigências de capital e certificados de execuções de obras para participação.
A queda do governo Collor começou com a briga entre os irmãos Pedro e Fernando Collor pela hegemonia e controle das licitações públicas. Em Minas, a atual situação é realmente muito delicada, pois a participação de Aécio na mediação e arbitragem deste impasse poderá representar o final do atual modelo de governo adotado, ficando o governo acéfalo. Porém, sua omissão representará reconhecer de público a subordinação total de seu governo à sua irmã Andréa, por que não terá como esconder este fato, pois os diversos atores envolvidos neste litígio - grandes empresários, banqueiros nacionais e internacionais, os maiores empreiteiros, enfim, a nata da economia que representam a elite formadora de opinião em nível nacional e internacional - a tudo presenciaram. Profetizam alguns: este é o preço que se paga quando os políticos resolvem abandonar os companheiros para governar defendendo interesses de grupos econômicos.
O vice-governador, braço auxiliar de Andréa, com quem fala pelo menos duas vezes ao dia, teria convencido-a que a presença de secretários políticos no governo estaria atrapalhando a “gestão da máquina”. Nesta versão, Andréa é acusada de patrocinar o desmonte do atual secretariado com veiculação de notícias desfavoráveis aos mesmos. Neste caso a versão ganha credibilidade, pois, com certeza absoluta, nada sai no jornal Estado de Minas sem antes Andréa tomar conhecimento e autorizar. Muito menos o Procurador-geral de Justiça pronuncia-se.
A imagem do governador Aécio Cunha já não era boa, agora é esperar para ver como ficará.A Assembléia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) reabre seus trabalhos nesta segunda-feira (26) sem rumo, pois o atual líder do governo, Mauri Torres (PSDB), é sabidamente apenas portador da opinião do secretário de governo Danilo de Castro e, com o abandono de Aécio ao Legislativo e a seus membros, fato reclamado até por deputados da base de governo, e diante desta “disputa pelo poder”, ninguém sabe quem representa a vontade do governador, se é que ele a tem.