Nas comemorações dos seus 90 anos, em um caminhar de sabedoria e ternura, Dona Rosita é sinônimo de Professora.
Tive o privilégio de tê-la como Mestra. Nos anos 60, no Ginásio Montes Claros, dos Ferroviários, instalado, noturnamente, no Grupo Francisco Sá.
Retornara do Quilombo, para reingressar aos estudos, quatro anos depois de ter concluído o primário e a admissão ao ginásio, parte com Dona Iraci, na Escola Rural de Santa Bárbara e outra no Colégio São José, nos idos de 57 e 58 do século passado.
No primeiro ano de ginásio, Monsenhor Gustavo foi o nosso professor de português. Não sei se hoje ainda é assim. Se não, deveria. No primeiro dia de aula, o professor pedia uma redação para avaliação das condições da escrita e conteúdo do saber do aluno. Assim o fez Monsenhor Gustavo. No dia determinado, houve a entrega das redações. De pronto, Monsenhor deu início ao exame das composições, com leitura e comentários dos textos. Por azar, pegou logo os meus escritos, nominando o autor, passando a leitura crítica da “obra”, sem dó e nem piedade de um pobre matuto. Foi um constrangimento, não pela qualidade da redação, mas pela forma com que foi colocada diante da turma. Isto me retraiu, para não dizer envergonhou-me, a ponto de não fazer mais redação durante o primeiro ano, passando de ano com nota mínima, por força de estudo redobrado de Gramática.
Veio o segundo ano ginasial e Monsenhor Gustavo foi dar aulas de Francês. Dona Rosita, de Português. Como de praxe, pediu aos alunos uma redação. Como gato escaldado, não fiz. Ela notando a falta, cobrou-me a tarefa. Talvez achando que fora esquecimento ou falta de tempo suficiente. Todavia, permaneci resistente. Ela insistiu e quis saber o motivo da insurreição. Disse que não sabia escrever, sem revelar o motivo real da minha atitude. Dona Rosita não desistiu. Com seu jeito de verdadeira Mestra, quebrou a minha resistência. Escrevi. Entreguei. Ela viu, leu e chamou-me, disse-me que, realmente, a peça era ruim, mormente em conteúdo. Recomendou-me, então, leitura e leitura. Livro, jornal, gibi, fotonovela, tudo que eu encontrasse. Segui a sua orientação e no fim do ano era um bom redator.
Faço essa revelação em homenagem a Dona Rosita, nas suas nove décadas de bem viver no caminho do Magistério, resplandecendo sabedoria irradiada de eterno humanismo, gestos, palavras e atos, marcando profundamente mais de uma geração, além de ser um eterno paradigma de Mestra da Educação.
*João Avelino Neto é advogado
Foto: Haroldo Lívio (montesclaros.com)
Tive o privilégio de tê-la como Mestra. Nos anos 60, no Ginásio Montes Claros, dos Ferroviários, instalado, noturnamente, no Grupo Francisco Sá.
Retornara do Quilombo, para reingressar aos estudos, quatro anos depois de ter concluído o primário e a admissão ao ginásio, parte com Dona Iraci, na Escola Rural de Santa Bárbara e outra no Colégio São José, nos idos de 57 e 58 do século passado.
No primeiro ano de ginásio, Monsenhor Gustavo foi o nosso professor de português. Não sei se hoje ainda é assim. Se não, deveria. No primeiro dia de aula, o professor pedia uma redação para avaliação das condições da escrita e conteúdo do saber do aluno. Assim o fez Monsenhor Gustavo. No dia determinado, houve a entrega das redações. De pronto, Monsenhor deu início ao exame das composições, com leitura e comentários dos textos. Por azar, pegou logo os meus escritos, nominando o autor, passando a leitura crítica da “obra”, sem dó e nem piedade de um pobre matuto. Foi um constrangimento, não pela qualidade da redação, mas pela forma com que foi colocada diante da turma. Isto me retraiu, para não dizer envergonhou-me, a ponto de não fazer mais redação durante o primeiro ano, passando de ano com nota mínima, por força de estudo redobrado de Gramática.
Veio o segundo ano ginasial e Monsenhor Gustavo foi dar aulas de Francês. Dona Rosita, de Português. Como de praxe, pediu aos alunos uma redação. Como gato escaldado, não fiz. Ela notando a falta, cobrou-me a tarefa. Talvez achando que fora esquecimento ou falta de tempo suficiente. Todavia, permaneci resistente. Ela insistiu e quis saber o motivo da insurreição. Disse que não sabia escrever, sem revelar o motivo real da minha atitude. Dona Rosita não desistiu. Com seu jeito de verdadeira Mestra, quebrou a minha resistência. Escrevi. Entreguei. Ela viu, leu e chamou-me, disse-me que, realmente, a peça era ruim, mormente em conteúdo. Recomendou-me, então, leitura e leitura. Livro, jornal, gibi, fotonovela, tudo que eu encontrasse. Segui a sua orientação e no fim do ano era um bom redator.
Faço essa revelação em homenagem a Dona Rosita, nas suas nove décadas de bem viver no caminho do Magistério, resplandecendo sabedoria irradiada de eterno humanismo, gestos, palavras e atos, marcando profundamente mais de uma geração, além de ser um eterno paradigma de Mestra da Educação.
*João Avelino Neto é advogado
Foto: Haroldo Lívio (montesclaros.com)
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